sábado, 6 de março de 2010

Orlanda parte 1

E de repente eu estava lá. O crepúsculo caindo sobre todas as coisas como um véu, confundindo nossos olhos (na verdade só os meus, vocês entederão), a grama recém cortada roçando os meus seus pés. E a lua (eu lembro da lua), a lua ia alta, livre, cortada de forma crua, como um spot flutuando no palco quase enegrecido, despindo-nos, nós já tão nús (eu na verdade não sabia se era ele ou ela ou se... ou se eu poderia mesmo definir um sexo para ele, pois no fim o sentia masculino, como sempre senti os anjos, os gatos e o historiadores.)
O banho prata brilhava sobre sua pele cúprica, polida e úmida. Eu o sentia frio, ou eram os arrepios que seus olhos me davam, eles pareciam me atravessar, mirar sem ver. É, o que vem primeiro quando eu fecho os olhos nesse momento são seus globos oculares me fixando, me impedindo de mover, mas ao mesmo tempo tão opacos, tão vazios, nós poderiamos adivinhar quatro universos lá dentro, indiferentes, dando-me a subita impressão de que talvez eu não estivesse lá. Ele ignorava minha presença, eu estava certo que sim. Além disso seus pés formavam tudo mais irreal, ele lá, semi-ereto semi-humano, equilibrando-se sobre os dedos dos pés e somente, formando um arco firme ao longo dos pés estreitos até o calcanhar quase inexistente. Achilles invejaria esse corpo.
Eu estava quase quebrando aquele olhar oco e talvez eu corresse, talvez eu soltasse um grito que soaria mais grave do que realmente seria, talvez eu deixasse me entregar à um desmaio (eu sempre espero o desmaio) mas no instante último ele deu um passo. Um passo que eu nao saberia vos dizer se fora para frente ou para trás, mas isso pouco importa, ele deu um passo. Fixando-me, sempre. Um passo apenas como um aviso, um prólogo, um não te movas eu te escuto.

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