terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Esperar a morte(...)

"Um sábio, talvez, mas Henry preferia alguém que gritasse quando se queimasse.
(...) o sono parecia a morte, então adormeceu."
Bukowsky


Ele vive numa bolha. Hoje as bolhas perderam a magia. Elas se transformaram artificiais. Eletrônicas. Só as  crianças ainda se encantam com as bolhas.

Ele sai de casa e não sabe se acende o cigarro, ele não gosta de jogar as cinzas por aí.
O celular toca. Celulares nunca tocam nesses contextos. É a sua mãe, sua vizinha, sua amante.
Ele escarra palavras quaisquer de amor desinteressado. O muco continua fundo no pulmão ou seja lá onde se esconda.
Ele dá a volta no quarteirão. É um pequeno quarteirão, com muitas bolhas interessantes.
Não, interessantes não. Mas pelos menos não causam enjôo à sua bolha. É sempre um desacordo, por que ele se sente muito enjoado. É obrigado a se sentir enjoado. E aí ele finge se interessar pelo seu desinteresse no desinteresse dos outros. Ele lê as vitrines e acha que as rimas cabem nos contos.
Chega à segunda esquina e a neve fondida começa a cair. E sua bolha explode e ele se sente sujo. Tudo que ele vê é sujo. Ele deprime com a sujeira, assim. Gelado, ele deprime consigo mesmo.
Ele acende o cigarro, droga é o último. Usa as moedas que não tem pra comprar alguns avulços de alguma marca turca. Inalar naftalina. Nem por isso seu mofo muco se vai.
Ele chega no hall, meio molhado, meio branco. Ele é a via láctea. Ele não olha nos olhos das pessoas. Ele sobe 7 andares em 25 minutos. Põe a chave na porta, abre, entra no que não é seu. Sem perceber, após re-aspirar  ar de papel de parede úmido, sua bolha se refaz. Ela se refaz e ele pensa: Onde eu estava com a cabeça? O futuro é o que importa! E eu abstraio conscientemente que o futuro é a morte.

Nenhum comentário: