terça-feira, 18 de janeiro de 2011

demonstração

Não, eu não lembro. Não há tinta alguma cobrindo as ataduras.
Não há um você para me lembrar, apenas as lembranças de ter lembrado de jardins que pareciam abismos, cachorros mortos, rosas eternas, cestos caidos, noites úmidas de verão habitadas por sapos, máscaras chinesas, teatros de sombras, cerigrafias e as tintas naturais.
O som da fricção entre a tela e as escovas, enquanto os pigmentos escorrem ralo abaixo exalando o cheiro químico. Não lembro do cheiro, estranho. Mas o barulho aflora algo que ficou preso entre minha pele e meu ser. Algo que não sei despir.
E há as maçãs, as fotos em p&b, as noites em que assistiamos filmes absortos e sozinhos em nós mesmos, nús. E depois as discussões, a falta de palavras, a falta que você, alguém, você, alguém, você me faz.
Não, eu não lembro de planos, apenas de outra vida. 


Por favor, entendam-me. Eu sou tão impossibilitado de dar o segundo passo quanto de me imaginar dando o primeiro.

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