sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
As Bênçãos da Lua
~exercício de tradução:
A Lua, que é o próprio capricho, observara-te pela janela enquanto tu dormias no teu berço e falou consigo: “gosto desta criança”.
E ela desceu suavemente sua escada de nuvens e passou, silenciosa, através da janela. Então, esgueirou-se sobre ti com a ternura complacente de uma mãe e depositou suas cores sobre teu rosto. Tuas íris permaneceram verdes e tua face extraordinariamente pálida. Foi por contemplar à visitante que teus olhos engrandeceram de forma tão singular; e ela te apertou com tanto carinho a garganta que guardastes para sempre a vontade de chorar.
Contudo, na expansão da sua alegria, a Lua preencheu todo o quarto com uma atmosfera fosfórica, como um veneno luminoso; e toda aquela luz viva pensava e dizia: “Tu sofrerás eternamente a influência do meu beijo. Tu serás bela à minha maneira. Tu amarás o que eu amo e quem me ama: a água, as nuvens, o silêncio e a noite; o mar imenso e verde; a água disforme e multiforme; o lugar que tu não estarás; o amante que não conhecerás; as flores monstruosas; os perfumes que fazem delirar; os gatos que desfalecem sobre pianos e que gemem como mulheres de vozes roucas e doces!"
"E tu serás amada pelos meus amantes, cortejada pelos meus cortesãos. Tu serás a rainha dos homens com olhos verdes, dos quais eu também dei este nó na garganta com os meus carinhos noturnos; daqueles que amam o mar, o mar imenso, tumultuoso e verde, a água disforme e multiforme; o lugar onde não estarão; as amantes que não conhecerão; as flores sinistras que lembram os incensos de uma religião desconhecida, os perfumes que perturbam o desejo; e os animais selvagens e sensuais que são os emblemas de suas loucuras.”
E é por isto, maldita e querida criança mimada, que estou agora deitada aos teus pés, procurando em toda a tua pessoa o reflexo da formidável Divindade, da fatídica madrinha, da babá que envenena a todos os lunáticos.
Texto Original:
La Lune, qui est le caprice même, regarda par la fenêtre pendant que tu dormais dans ton berceau, et se dit: «Cette enfant me plaît.»
Et elle descendit moelleusement son escalier de nuages et passa sans bruit à travers les vitres. Puis elle s'étendit sur toi avec la tendresse souple d'une mère, et elle déposa ses couleurs sur ta face. Tes prunelles en sont restées vertes, et tes joues extraordinairement pâles. C'est en contemplant cette visiteuse que tes yeux se sont si bizarrement agrandis; et elle t'a si tendrement serrée à la gorge que tu en as gardé pour toujours l'envie de pleurer.
Cependant, dans l'expansion de sa joie, la Lune remplissait toute la chambre comme une atmosphère phosphorique, comme un poison lumineux; et toute cette lumière vivante pensait et disait: «Tu subiras éternellement l'influence de mon baiser. Tu seras belle à ma manière. Tu aimeras ce que j'aime et ce qui m'aime: l'eau, les nuages, le silence et la nuit; la mer immense et verte; l'eau informe et multiforme; le lieu où tu ne seras pas; l'amant que tu ne connaîtras pas; les fleurs monstrueuses; les parfums qui font délirer; les chats qui se pâment sur les pianos, et qui gémissent comme les femmes, d'une voix rauque et douce!
«Et tu seras aimée de mes amants, courtisée par mes courtisans. Tu seras la reine des hommes aux yeux verts dont j'ai serré aussi la gorge dans mes caresses nocturnes; de ceux-là qui aiment la mer, la mer immense, tumultueuse et verte, l'eau informe et multiforme, le lieu où ils ne sont pas, la femme qu'ils ne connaissent pas, les fleurs sinistres qui ressemblent aux encensoirs d'une religion inconnue, les parfums qui troublent la volonté, et les animaux sauvages et voluptueux qui sont les emblèmes de leur folie.»
Et c'est pour cela, maudite chère enfant gâtée, que je suis maintenant couché à tes pieds, cherchant dans toute ta personne le reflet de la redoutable Divinité, de la fatidique marraine, de la nourrice empoisonneuse de tous les lunatiques.
A Lua, que é o próprio capricho, observara-te pela janela enquanto tu dormias no teu berço e falou consigo: “gosto desta criança”.
E ela desceu suavemente sua escada de nuvens e passou, silenciosa, através da janela. Então, esgueirou-se sobre ti com a ternura complacente de uma mãe e depositou suas cores sobre teu rosto. Tuas íris permaneceram verdes e tua face extraordinariamente pálida. Foi por contemplar à visitante que teus olhos engrandeceram de forma tão singular; e ela te apertou com tanto carinho a garganta que guardastes para sempre a vontade de chorar.
Contudo, na expansão da sua alegria, a Lua preencheu todo o quarto com uma atmosfera fosfórica, como um veneno luminoso; e toda aquela luz viva pensava e dizia: “Tu sofrerás eternamente a influência do meu beijo. Tu serás bela à minha maneira. Tu amarás o que eu amo e quem me ama: a água, as nuvens, o silêncio e a noite; o mar imenso e verde; a água disforme e multiforme; o lugar que tu não estarás; o amante que não conhecerás; as flores monstruosas; os perfumes que fazem delirar; os gatos que desfalecem sobre pianos e que gemem como mulheres de vozes roucas e doces!"
"E tu serás amada pelos meus amantes, cortejada pelos meus cortesãos. Tu serás a rainha dos homens com olhos verdes, dos quais eu também dei este nó na garganta com os meus carinhos noturnos; daqueles que amam o mar, o mar imenso, tumultuoso e verde, a água disforme e multiforme; o lugar onde não estarão; as amantes que não conhecerão; as flores sinistras que lembram os incensos de uma religião desconhecida, os perfumes que perturbam o desejo; e os animais selvagens e sensuais que são os emblemas de suas loucuras.”
E é por isto, maldita e querida criança mimada, que estou agora deitada aos teus pés, procurando em toda a tua pessoa o reflexo da formidável Divindade, da fatídica madrinha, da babá que envenena a todos os lunáticos.
Texto Original:
La Lune, qui est le caprice même, regarda par la fenêtre pendant que tu dormais dans ton berceau, et se dit: «Cette enfant me plaît.»
Et elle descendit moelleusement son escalier de nuages et passa sans bruit à travers les vitres. Puis elle s'étendit sur toi avec la tendresse souple d'une mère, et elle déposa ses couleurs sur ta face. Tes prunelles en sont restées vertes, et tes joues extraordinairement pâles. C'est en contemplant cette visiteuse que tes yeux se sont si bizarrement agrandis; et elle t'a si tendrement serrée à la gorge que tu en as gardé pour toujours l'envie de pleurer.
Cependant, dans l'expansion de sa joie, la Lune remplissait toute la chambre comme une atmosphère phosphorique, comme un poison lumineux; et toute cette lumière vivante pensait et disait: «Tu subiras éternellement l'influence de mon baiser. Tu seras belle à ma manière. Tu aimeras ce que j'aime et ce qui m'aime: l'eau, les nuages, le silence et la nuit; la mer immense et verte; l'eau informe et multiforme; le lieu où tu ne seras pas; l'amant que tu ne connaîtras pas; les fleurs monstrueuses; les parfums qui font délirer; les chats qui se pâment sur les pianos, et qui gémissent comme les femmes, d'une voix rauque et douce!
«Et tu seras aimée de mes amants, courtisée par mes courtisans. Tu seras la reine des hommes aux yeux verts dont j'ai serré aussi la gorge dans mes caresses nocturnes; de ceux-là qui aiment la mer, la mer immense, tumultueuse et verte, l'eau informe et multiforme, le lieu où ils ne sont pas, la femme qu'ils ne connaissent pas, les fleurs sinistres qui ressemblent aux encensoirs d'une religion inconnue, les parfums qui troublent la volonté, et les animaux sauvages et voluptueux qui sont les emblèmes de leur folie.»
Et c'est pour cela, maudite chère enfant gâtée, que je suis maintenant couché à tes pieds, cherchant dans toute ta personne le reflet de la redoutable Divinité, de la fatidique marraine, de la nourrice empoisonneuse de tous les lunatiques.
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
#1
Um esboço de sorriso se formou, como fenda que se abre na terra seca. A escuridão da noite que avança já ia, passava pelos portais das janela. Lá ninguém perceberia a rachadura distinta.
A ardência provocada pelo mármore polido dos degraus penetrava pela sola dos pés nus. Os sentidos aguçados. Primeiro, o roçar do tecido leve entre as pernas. Suave e persistente, que no toque inicial proporcionara um gélido frescor de exposição prolongada à brisa marítima. Esse roçar o impulsionava a andar.
Não andou.
O frio já envolvia seus pés, a ardência se tornando anestésica. Nas mãos iniciavam os habituais desconfortos, acompanhados das pesadas borboletas esvoaçando suas asas pelo ventre. São sempre as mesmas, no ventre dos amantes e dos que ficam para trás.
Pensava se agora, suas mãos rígidas, não teriam já se tornado no mármore invencível. Penalidade que fosse por terem percorrido calores tão mais ardentes. Os calores da pele bruta, aquele calor que difere dos outros tantos calores de outras tantas peles.
Estremeceu.
As asas caindo em tempestade, arrastando suas entranhas. Pois logo abaixo, depois do mármore polido, do mármore frio e morto, estava a clareza dos teus olhos mornos.
A ardência provocada pelo mármore polido dos degraus penetrava pela sola dos pés nus. Os sentidos aguçados. Primeiro, o roçar do tecido leve entre as pernas. Suave e persistente, que no toque inicial proporcionara um gélido frescor de exposição prolongada à brisa marítima. Esse roçar o impulsionava a andar.
Não andou.
O frio já envolvia seus pés, a ardência se tornando anestésica. Nas mãos iniciavam os habituais desconfortos, acompanhados das pesadas borboletas esvoaçando suas asas pelo ventre. São sempre as mesmas, no ventre dos amantes e dos que ficam para trás.
Pensava se agora, suas mãos rígidas, não teriam já se tornado no mármore invencível. Penalidade que fosse por terem percorrido calores tão mais ardentes. Os calores da pele bruta, aquele calor que difere dos outros tantos calores de outras tantas peles.
Estremeceu.
As asas caindo em tempestade, arrastando suas entranhas. Pois logo abaixo, depois do mármore polido, do mármore frio e morto, estava a clareza dos teus olhos mornos.
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